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sábado, 14 de abril de 2012

Artigos: Behaviorismo Radical ou Filosofia da Mente.Controvérsias



O Behaviorismo Radical inclui-se numa tradição de pensamento que pode ser remontada à Grécia Antiga, com Aristóteles e a sua visão naturalista na explicação dos fenômenos, em oposição ao Idealismo Platônico. O Naturalismo estaria na raiz da rejeição às explicações de fenômenos físicos naturais que não recorram a meios igualmente físicos.
Na Filosofia Moderna temos Descartes e Locke que podem auxiliar a contextualização desta questão. O primeiro, Descartes, com seu dualismo corpo-mente, abriu espaço para o estudo de fenômenos corporais ao mesmo tempo em que dividiu o ser humano em duas naturezas e manifestações, duas dimensões e/ou duas substâncias diferenciadas, uma imaterial interferindo na outra, material, num sentido causal. Locke, por outra via, rejeitou a existência de ideias inatas e enfatizou o papel da experiência na construção do sujeito e seu conhecimento, em oposição ao racionalismo Cartesiano.
Neste sentido, na história da filosofia, fenômenos mentais ora são vistos como esfera da supremacia do sujeito sobre o mundo da experiência (numa tradição racionalista) e ora como supremacia do mundo dos objetos sobre o sujeito (numa tradição empirista).
O Behaviorismo Radical, muito embora se aproxime mais de uma visão empirista de construção de conhecimento e estabelecimento do sujeito não poderia ser colocado nem em um lado e nem em outro do binômio racionalismo-empirismo, de forma pura, na concepção acima comentada. Isso é válido para qualquer outra abordagem psicológica, uma vez que o surgimento da psicologia é posterior ao advento do interacionismo Kantiano na Filosofia Moderna.
Qual seria então, o papel da mente no Behaviorismo Radical, ou ainda, o Behaviorismo Radical poderia ser considerado uma filosofia da mente? Isso dependeria do significado atribuído ao termo "mente". No sentido de senso comum e mesmo na maior parte das teorias psicológicas, a mente é termo inserido numa dimensão
não física ou pelo menos se refere a uma dimensão imaterial, impalpável e, portanto, de natureza no mínimo diferenciada da natureza dos comportamentos publicamente observáveis e mais, responsáveis pelos últimos, em um sentido de aguilhão iniciador. Com esta visão ou nesta concepção, o Behaviorismo Radical não poderia ser considerado uma filosofia da mente. Isso não equivaleria a assumir explicações fisiológicas para o comportamento, uma vez que "o relógio não causa as horas".
Por outro lado, caso a mente se refira ao que o cérebro faz, sendo o cérebro parte do que o corpo total faz, então estaremos nos referindo a eventos comportamentais do tipo encoberto (não publicamente observáveis) e/ou a
condições corporais sentidas pelos organismos. Assim, o Behaviorismo Radical pode ser considerado na compreensão de fenômenos privados, porém, sem que assumam status causal de outros fenômenos
como os comportamentos públicos. Mais do que considerar, o Behaviorismo Radical se interessa pela compreensão da mente e assemelhados, como parte do que o organismo faz em seu mundo privado e do que sente.
A "localização" ou mesmo a "acessibilidade" a fenômenos do tipo encoberto/privado não se confunde com a "causalidade" e não se retira o caráter monista da compreensão de fenômenos comportamentais própria do Behaviorismo Radical. Sendo assim, não se nega a existência de eventos mentais e não há recusa em
estuda-los, mas questiona-se a sua natureza e seu status causal. Os fenômenos privados constituem-se em mais
fenômenos a serem explicados, seja como comportamentos encobertos ou como condições corporais.
Divisões como material-imaterial; mental-corporal; físico-não físico; herdados da tradição cartesiana não são úteis ao monismo Behaviorista Radical na compreensão de seu objeto de estudo: o comportamento em sua acepção total, "radical" do termo (no sentido de raiz). As dificuldades metodológicas decorrentes do acesso ao objeto no estudo de comportamentos encobertos, tradicionalmente conhecidos como mentais, também não impede seu estudo, tal como ocorria no Behaviorismo Metodológico (Watsoniano), por exemplo.
No entanto, a nossa cultura e a maior parte das abordagens psicológicas existentes, tende a considerar o que se passa no mundo sob a pele do indivíduo, bem como a mente e assemelhados (estruturas cognitivas, de personalidade, vontade, propósito, pensamento etc.) como agentes iniciadores das ações dos organismos, num sentido mecanicista, unidirecional e linear, numa concepção herdada da noção de causalidade da física clássica Newtoniana, para a qual existia uma noção de força incidindo sobre um objeto. A noção de reflexo, na mesma tradição, ilustra essa forma causal como um estímulo gerando uma resposta necessária.
B. F. Skinner, o principal expoente do Behaviorismo Radical, iniciou seus trabalhos na década de 30 guiando-se por uma noção de causalidade clássica; porém, dela foi se afastando e acabou por adotar outra forma de analisar a determinação de seu objeto de estudo, influenciado por Mach, um crítico do mecanicismo. Desta forma, adotou o conceito de relações funcionais para analisar seu objeto de estudo, o comportamento. Além da influência de Mach
também foi fortemente influenciado por Darwin, adotando uma noção de determinismo, que se afasta fortemente da do aguilhão que gera o movimento, mais voltada para o terreno das probabilidades, sendo selecionista e
considerando o comportamento como selecionado pela interação comportamento-ambiente, em três níveis de história comportamental, a filogênese, a ontogênese e a cultura. O comportamento é visto, para o Behaviorismo radical, como selecionado pelas contingências atuantes e pelas modificações que o ambiente produz e seleciona das variações ocorridas nos três níveis de história referidos.
Assim, tal como a nossa cultura usualmente preconiza, não há espaço no Behaviorismo Radical para agentes iniciadores causais como o livre arbítrio, ou para agentes teleológicos como propósito e intencionalidade. Não há um eu iniciador do tipo "autodeterminado", uma vez que tanto o eu quanto o que é por ele realizado e
sentido são produto de uma história complexa e multideterminada num tecido de relações que selecionou um organismo modificado ao longo dos três níveis de interação entre comportamento e ambiente anteriormente mencionados (ontogênese, filogênese e cultura).
A rejeição à noção de mente e ao próprio mentalismo vigentes na cultura acadêmica e geral pode ser entendida, portanto, como rejeição à noção de agente iniciador de comportamentos num sentido causal mecanicista e talvez mais aproximado da adoção da noção de livre arbítrio. O Behaviorismo Radical difere nesse ponto de concepções mais populares e aceitas na nossa cultura, próximas às do senso comum. Isso não equivale, no entanto, a dizer que fenômenos tradicionalmente conhecidos como mentais não existam (pensamentos, sentimentos, sonhos,
fantasias, desejos etc.), uma vez que o que se discute não é a existência e sim a natureza (material, do ponto de vista do Behaviorismo Radical) e o status causal dos mesmos.
Para o Behaviorismo Radical, o principal problema de se aceitar explicações mentalistas para as ações humanas (e de outros animais também) não está nem na questão metodológica (o que não deixa de conter dificuldades, pelo acesso à "mente"), que poderia ser contornada com base em boa dose de "criatividade" científica e construção de vias adequadas pela comunidade ao longo do tempo; mas sim, em relação ao fato de se constituírem em "ficções explanatórias". Uma explicação mentalista seria uma pseudo explicação, do tipo de satisfaz antecipadamente nossa curiosidade e nos afasta da busca das reais causas dos comportamentos.
Ao aceitarmos uma explicação mecanicista do tipo: "Estou triste, logo choro"; "Estou alegre, logo danço"; "O aluno é desmotivado, portanto não aprende"; acabamos por deixar de explicar tanto a tristeza quanto o choro, no primeiro caso ambos atribuíveis a algum outro evento ou conjunto deles. Também deixamos de explica tanto a alegria quando a dança, bem como a origem da desmotivação e do não aprendizado. Conforme já mencionado, o que se passa no mundo privado do indivíduo é, nesse caso, comportamento encoberto a ser explicado ou condição corporal sentida. Também podem ser considerados produtos colaterais das contingências ou epifenômenos,
caso não tomem parte da análise do comportamento em questão.
A visão de determinação do Behaviorismo Radical e o seu caráter monista na compreensão e análise de fenômenos comportamentais constituem-se, portanto, em visão bastante diferenciada da utilizada pela cultura em geral e acadêmica em particular. De um lado fenômenos mentais são fenômenos a serem explicados, de
outro, são tomados como a "explicação". Na visão behaviorista radical há destituição do home de seu papel de agente iniciador, portador da condição de efetuar escolhas de modo independente das contingências (livre arbítrio), de modo semelhante ao que Darwin efetuou ao destituir o papel de um criador da natureza (Criacionismo na origem das espécies).
Essa posição tem gerado muitos opositores com reações por vezes extremadas e muitos críticos dos defensores da "autodeterminação" ou de concepções de homem e de comportamento, bem como de ciência e de causalidade, que sejam incompatíveis com o monismo selecionista do Behaviorismo Radical. Isso pode ocorrer pela crença no papel de um sujeito agente da própria determinação, de modo descolado das contingências ou mesmo de incompreensões da proposta behaviorista radical. Porém, independentemente da origem de tais reações, essa posição "às avessas" possui caráter diferencia e promissor, tanto no modo de abordar e explicar os fenômenos tradicionalmente conhecidos como mentais, como na possibilidade de neles intervir. Isso representa um importante também em termos tecnológicos, uma vez que conhecer é o primeiro passo para intervir na resolução de problemas. No caso, mais especificamente, intervir em problemas humanos, que via de regra inclui o comportamento dos membros da nossa espécie, de modo individual ou coletivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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