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terça-feira, 29 de julho de 2014

A atualidade de Celso Furtado dez anos após sua morte

A atualidade da obra e do pensamento do economista Celso Furtado, dez anos após sua morte, será um dos temas do 2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado. Haverá uma homenagem ao grande teórico do subdesenvolvimento, com resgate da sua contribuição para a formação do Brasil atual e revelações de fatos curiosos e desconhecidos da sua trajetória, durante mesa redonda mediada por Rosa Freire d'Aguiar, viúva de Furtado e presidente do Conselho Deliberativo do Centro. O encontro acontecerá na tarde do dia 20 de agosto com participação de estudiosos e profissionais que acompanharam a carreira do economia e ex-ministro da Cultura.

A mesa 2004-2014: a atualidade de Celso Furtado dez anos após sua morte será formada por Afrânio Garcia (Maison de Sciences de l'Homme), Aldo Ferrer (Universidade de Buenos Aires), Almino Affonso (ex-ministro do Trabalho do governo João Goulart), Angelo Oswaldo de Araújo Santos (presidente do Instituto Brasileiro de Museus), Carlos Brandão (economista do IPPUR/UFRJ) e Luiz Felipe de Alencastro (Universidade de Paris e FGV-SP).
Segundo Rosa, é uma oportunidade de mostrar a contemporaneidade do pensamento de Celso e reafirmar o novo interesse de algumas facetas do pensamento de Celso, como seus estudos sobre a cultura: “Um dos meus esforços sempre foi o de abrir o Centro para outras áreas de conhecimento, indo além da economia. Celso sempre teve um pensamento pluridisciplinar. Mas o fulcro de suas ideias é, evidentemente, a economia. E também aí suas ideias permanecem atuais. Afinal, enquanto o subdesenvolvimento não estiver superado, a teoria está válida, ainda que vá sendo reelaborada periodicamente por outros estudiosos. Celso, como também outros cientistas sociais brasileiros, devem ser relembrados e estudados em permanência. Ter a oportunidade de reunir um pequeno grupo que acompanhou o trabalho e as atividades de Celso em vida será um grande momento”, afirma.
“Quanto aos arquivos de Celso, tenho consciência de que é uma herança valiosa. Acredito que o meu dever seja transmitir este patrimônio da melhor maneira, pelos meios possíveis. É prazeroso escrever sobre Celso, conheço coisas que outras pessoas não conhecem graças a nossas conversas e convívio de 26 anos. Todos os meus textos sobre ele têm necessariamente um lado muito pessoal, mas ao mesmo tempo procuro me distanciar e encontrar um equilíbrio”, completa Rosa.
Publicações – Nos últimos anos de vida, a pedido de Rosa, Celso Furtado releu e fez anotações em suas publicações. De posse deste material, desde 2004, ano em que o escritor morreu, a viúva e herdeira dos arquivos e espólio cultural reeditou e publicou doze livros (contando os dois que saem este ano), entre eles algumas edições definitivas, com atualizações e notas de rodapé, uma obra comemorativa sobre o cinquentenário de “Formação Econômica do Brasil” (2009), e a importante coletânea “Essencial Celso Furtado” (2012). Criou em 2008 a coleção “Arquivos Celso Furtado”, coeditada pelo Centro Celso Furtado e a Editora Contraponto, pela qual já publicou 5 livros temáticos com material dos arquivos de Celso.
Durante o 2º Congresso, outros dois exemplares serão relançados: Anos de Formação eObra Autobiográfica, que, de acordo com a presidente do Conselho Deliberativo do Centro, se complementam. “É um trabalho de resgate desde os anos iniciais de formação do Celso, que marcaram quem ele seria no futuro. Minha intenção é recuperar o passado e lançar novas ideias a partir de estudos deixados por ele, aproveitando os dez anos para mostrar a riqueza de seu pensamento”, destaca.
Anos de Formação 1938 -1948 (Editora Contraponto, 404 páginas), sexto título da coleção “Arquivos Celso Furtado”, se refere ao período dos 18 aos 28 anos de Furtado. Mostra seu interesse por questões internacionais – por meio dos textos escritos por ele quando esteve como oficial da FEB na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial, e também das cartas enviadas à família durante o confronto. O livro também revela sua experiência no jornalismo, com reprodução de matérias publicadas, e ensaios inéditos retirados do caderno pessoal de Furtado; outros sobre sua paixão pela administração pública, a iniciação na ciência política.
Obra Autobiográfica (Companhia das Letras, 670 páginas) é formada por uma trilogia.A Fantasia Organizada relembra o Rio de Janeiro dos anos 1940 e seu ambiente intelectual que deslumbrou o jovem recém-chegado da Paraíba; a devastada Europa do pós-guerra, percorrida durante o doutorado de economia em Paris; os anos vividos na América Latina, como diretor da Cepal e os estudos em Cambridge, convivendo com os contemporâneos de lorde Keynes. A fantasia desfeita cobre os seis anos em que Celso Furtado trabalhou com Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart, como diretor da Sudene, e primeiro-ministro do Planejamento do país. Por fim, o terceiro volume, Os Ares do Mundo, evoca o golpe militar de 1964, a dedicação no exílio e a atividade acadêmica nas universidades de Paris, Yale, Cambridge e Columbia, onde produziu uma obra teórica vasta e original que expandiu as fronteiras da ciência econômica e aproximou-a das relações internacionais e da cultura.endidas pelo Centro Celso Furtado no sentido de qualificar o debate sobre desenvolvimento. A realização sistemática de um congresso que vise articular pensadores e estudiosos que trabalham com o tema no Brasil e no exterior é uma espécie de coroamento desse trabalho. O Brasil vive há muitos anos o dilema do curtíssimo prazo, com as questões de conjuntura dominando a agenda e ocupando um espaço significativo na mídia e se sobrepondo a questões estruturais mais amplas sobre o desenvolvimento. Essas questões são mais complexas, exigem medidas de longo prazo,  exigem mais políticas de Estado do que de governo. Esse quadro vivido pelo Brasil foi brilhantemente tratado pelo próprio Celso Furtado, no seu livro de 1992, Brasil, a construção interrompida. Saímos de uma economia agroexportadora, no início do século passado, nos viabilizamos como uma das maiores economias do mundo, mas vivemos hoje o dilema do curto prazo, com uma deturpação do uso da política cambial, como instrumento de controle de preços, temos pouco espaço para políticas industriais e de desenvolvimento. E não obstante tudo isso, o Brasil logrou êxito, na última década e meia, em melhorar a sua distribuição de renda. Tivemos crescimento do PIB com mais distribuição. E a solidez desse processo passa por mudanças mais voltadas para o desenvolvimento de longo prazo. São questões que fazem parte desse grande debate que precisa ser feito da inserção do Brasil nesse mundo financeirizado, para viabilizar nosso desenvolvimento. Nesse sentido, o Congresso do Centro representa uma contribuição significativa.
Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento

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